Hoje cedo durante o café da manhã eu e meu esposo discutíamos sobre uma viagem que iríamos fazer e abordei com ele minha preocupação em pegar a estrada logo cedo. A viagem fica toda sob a responsabilidade dele que não é um grande fã de acordar cedinho, um trecho tão longo como o que faríamos é muito fácil ficar sonolento e cansativo depois de muitas horas ao volante. Confessei minha tristeza por não conseguir enfrentar a estrada para dividir com ele o volante, tenho medo de dirigir em trechos de alta velocidade e fico bastante insegura com tráfego pesado de caminhões.
Ele me perguntou: “Não consigo entender como você solta o corpo em uma montanha russa como a do Hopi Hari e dá risadas e não consegue pegar o volante na estrada. É muito mais fácil dirigir do que andar naquele veículo que se sacode todo e mata a gente de susto”. Ele completou com a pergunta: “Você tem medo de acontecer o que na estrada?”
Eu não tenho traumas relacionados a viagens de carro, graças a Deus nunca sofri nenhum tipo de acidente, nunca bati o carro e só levei uma multa por ultrapassagem de sinal vermelho em 20 anos com carteira de motorista. Realmente, meu medo não tinha muito sentido para uma pessoa que não é medrosa.
Depois de um tempo refletindo eu respondi: “Tenho medo de errar.” Essa conclusão me remeteu ao meu passado, fiquei pensando o porquê ter tanta insegurança e medo de errar. Lembrei-me do quão caxias eu sempre fui na escola e para mim era inadmissível errar, em tudo que eu fazia eu queria acertar sempre. Talvez eu mesma criei essa expectativa de que meus pais ficariam muito felizes com o meu desempenho e fui as poucos subindo a régua das cobranças. Ou, talvez eu tenha sido punida excessivamente por algum erro que tenha cometido quando muito pequena. O fato é que meu passado estava determinando um comportamento importante atualmente.
Sob essa perspectiva resolvi dar uma olhada na vida de José, personagem bíblico com um passado recheado de traumas e possibilidades de vitimização (inveja dos irmãos, xenofobia, mentiras, injustiça, esquecimento), ele tinha um cardápio completo. Mas ao se revelar para seus irmãos ele consegue olhar para seu passado e perceber a presença e permissão do Senhor ao longo de todo o processo:
“Agora, não fiquem aflitos ou furiosos uns com os outros por terem me vendido para cá. Foi Deus quem me enviou adiante de vocês para lhes preservar a vida.” (Gênesis 45:5)
O amor de José pelos irmãos o fez perdoá-los e olhar para seu passado com sabedoria e reconhecer o plano de Deus em todo o processo. Não importa qual foi o episódio no passado que criou em mim o medo de errar. Olhar para trás com amor, pode me ajudar a vencer esse medo (e outros tantos que ainda tenho) e perdoar as pessoas que participaram dos eventos que me tornaram quem sou.
“Esse amor não tem medo, pois o perfeito amor afasta todo medo. Se temos medo, é porque tememos o castigo, e isso mostra que ainda não experimentamos plenamente o amor. Nós amamos porque ele nos amou primeiro.” (1 João 4:18,19)