“Saia e ponha-se diante de mim no monte”, disse o Senhor. E, enquanto Elias estava ali, o Senhor passou, e um forte vendável atingiu o monte. Era tão intenso que as pedras se soltaram do monte diante do Senhor. Mas o Senhor não estava no vento. Depois do vento houve um terremoto, mas o Senhor não estava no terremoto. Depois do terremoto houve fogo, mas o Senhor não estava no fogo. E, depois do fogo veio um suave sussurro. Quando Elias o ouviu, cobriu o rosto com a capa, saiu e ficou na entrada da caverna. E uma voz disse: “O que você faz aqui Elias?” (I Reis 19:11-13)
Mudanças de vida trazem pesos extras, desconfortos, dúvidas, incertezas e muita, mas muita vergonha. Nós somos seres humanos caídos que buscam o tempo todo entender os movimentos que a vida nos leva e várias vezes sofremos por conta das escolhas erradas, tortas, difíceis ou incertas que fizemos.
Comigo não é diferente, eu tenho uma formação acadêmica que hoje nada tem a ver com o que faço. Sou escritora, mas me formei em Engenharia Civil, área de exatas, totalmente numérica e nada ligada ao que estudo e faço nos dias de hoje.
A mudança de carreira para mim foi um processo contínuo, eu lutei com essa crise por muitos anos, desde muito novinha ainda adolescente eu sofria com a pergunta: “o que você quer ser quando crescer?”.
Tive muitos medos, a vida me colocou algumas travas que foram difíceis de vencer. Logo aos 15 anos perdi meu pai, uma rocha que nos transmitia a segurança para sonhar sem se preocupar com o tamanho do vôo. Tive que mudar os planos, desistir de ser criança e logo cedo começar a tomar um rumo mais sério na vida. Não havia espaço para planos que não ajudassem a pagar boletos. Desisti de ser artista, passei no vestibular de Letras na Federal de Uberlândia, com nota máxima em redação (o que era um fenômeno para época). Mas, escrever não estava nos planos, pelo menos naquele momento de vida: “vai morrer de fome” era o melhor conselho que recebia. Eu desisti e fugi para o que achava mais seguro: “engenharia” uma carreira sólida, onde poucas mulheres se aventuravam, mas podiam demonstrar sua “capacidade intelectual” e coragem para trabalhar em um ramo onde os homens dominavam.
Acho que essa postura medrosa me jogou para dentro de uma caverna, um lugar onde achei ser seguro, fiquei lá no fundo, escondi meu talento e sofri por anos a mentira que criei pra mim mesma: você tem sucesso, afinal de contas não é qualquer um que alcança os títulos que você tem.
Chega um momento que Deus, em sua infinita bondade, olha para nós e nos convida: “Saia da caverna e coloque-se diante de mim no monte”. Sim, é isso mesmo, saia daquilo que você acreditou por anos ser o seu talento, venha para fora com toda sua vergonha, medo, incerteza e apareça onde as pessoas possam te ver, te criticar, ler seu trabalho e até rir de você. Em alguns momentos você verá trovões, terremotos e até vai passar por fogo, mas fique atento: a presença do Senhor será constante na mais doce rotina, na brisa suave do Espírito Santo te direcionando todos os dias e te lembrando constantemente a sair dessa caverna.